Saturday, November 17, 2007

a.l.a.l.i.a.

esqueci-me de falar na minha mala vermelha.
pesada.
vermelha.
andava a carregar bocados de minha casa para outras casas e levava a mala atrás, sempre com a vontade de que o Alice não se escapasse. o Alice é um gato loiro. tem bolas e parece uma gata.
ronrona quando me quer devorar.
os meus sonhos andam confusos. como era suposto. exactamente como era suposto.
descruzo os braços e tento apanhar um mosquito com os dentes.
que aborrecimento.
-olha, é uma maçada teres que fechar a porta à chave sem teres sequer uma fechadura na porta.
nesta casa trancamos as portas com pegas. daquelas que se usam para tirar bolos do forno. a pega fica presa na maçaneta, dobrada entre a ombreira e a porta.
a pega é uma tranca.
a tranca não é nada, porque nunca vi nenhuma.
sento-me no chão, atrás da porta, a imaginar como seria seres tu sem ser eu.
um dia fizeste-me ficar 30 segundos sem saber o que estava a fazer com os punhos na ombreira da porta.
ordenaste.
e eu depois abri os braços e estava a senti-los a voar.
ontem percebi que não gosto de sítios sem mim.
hoje estou entre a vontade de ir ou ficar.
estou com vontade de nada.
de ficar pequenina no meu tecto e dizer adeus às pessoas.
de sorrir muito enquanto choro e outras patetices.

que é que comi para ser assim?
qual é a caixa que se abre e espreita para mim com cara de parva?

em que reflexo do espelho me escondi? as caras que reconheço transformam-se e eu já não me vejo como antes. as caras que escolhia já não me aparecem. tomaram conta de mim. dominaram-me. mataram-me a carne.
entretanto violo o meu olho direito com rímel. enquanto o direito chora.

hoje em dia as meninas comem baton como se fosse algo muito saboroso. a pasta vermelha que se vai acumular nas paredes do estomago come-lhes a carne também.
e eu como, com as duas mãos, batatinhas e coentros.
as unhas enfiam-se debaixo da pele. rapariga, vai ouvir outra coisa e mudar o teu discurso.
e a vozinha diz baixinho : - you're totally right!
: -

não tem boca!











eu não falo.

2 comments:

public pervert said...

E no meio de tanta coisa por dizer, só me sai a frustração de nunca ter experimentado esse truque de pressão nas ombreiras.
As coisas quase infinitas neste nosso planeta que não se cansa de flutuar no espaço.

Rita said...

Catarinininina,

continuo à espera da mensagem que me diga que é hoje que nos podemos ver. *