Thursday, June 5, 2008

Friday, May 30, 2008

4

-um dia deixo-me ficar no chão, ouviste? - mas é claro que ninguém a ouviu. andou de um lado para o outro, enquanto esfregava creme das mãos nos cotovelos. andou de um lado para o outro e ele no sofá, a olhar-lhe os pés em sangue e o rasto no tapete. sem ouvir uma única palavra.
os rodopios lunáticos ainda presentes em cada nódoa negra.
os rodopios lunáticos a emergirem dos olhos a pressionarem a vertigem no estomago.
um relógio tique-taqueia-lhe no tornozelo e ele desprende a gravata do colarinho, retomando o sufoco do pescoço livre, um buda de plástico sorri na caixa dos botões, a verdade das coisas ecoa no vazio.



ele come-lhe as mãos e ela autoriza, como a criança que é.

depois veste as calças e diz que a respiração dos ausentes ainda lhe enforca o pescoço. tem mais que fazer à vida. tem mais que fazer ao tempo. ele não sonha com beijos no fundo das costas, são sempre puzzles complicadissimos e ela, por vezes, não tem paciência. atira um garfo para dentro do microondas - a explosão tarda-lhe os pensamentos.
a paixão vem a conta-gotas. numa cavidade oca o sangue é bombeado sempre no sentido do amor. respira fundo e destrói a razão. respira fundo e gera calor com o corpo pela proximidade.

- um dia destes, deixo-me ficar no chão - pés em ferida - um dia destes - começo de um breve momento de sanidade a anteceder a loucura - um dia - não a mastigues como o resto de comida nos teus dentes - destes - deixa o silêncio entrar e desaparecer, ao fim ao cabo, "tu não estás aqui, isto não está a acontecer"; a ficção toma um rumo real dentro da fantasia. dois gatos abraçados num parapeito, mordem a cauda um do outro. um deles foge e apanha um melro, pressiona-lhe a garganta e do bico saltam dois ovos azuis.

o acaso seria extraordinário se existisse. o caos é a redoma na qual apoia os cotovelos, besuntados com creme para as mãos.

deita-se no chão da cozinha e adormece ao som dos passos de fuga de um fantasma.





Tuesday, May 27, 2008

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Mesmo
uma linha
recta
é o labirinto
porque
entre
cada dois pontos
está o infinito

Adília Lopes

Tuesday, May 20, 2008

"quem pagará o enterro e as flores/ se eu morrer de amores?"

pois sim, a propósito de nada, só por ser parte de mim.

Sunday, May 18, 2008

apinup.jpg


(perneta)

paint e tédio 3.

Wednesday, May 14, 2008

5

"c)


entanto sou um pássaro atirado no vácuo do remexer
[quente dos dedos, as
balas roçam o ventre da carlinga (sagres imperial,
ó fino! - com um cheirinho a shelltox) e rio:
rir, rir, rir e rebentar, de espingardas engatilhadas, até à
súplica inerte, até à santa histeria, dos aleijadinhos,
[grandes macacos podres,
até ouvir o coar dos vagidos das crianças mordidas
[por longas víboras,
como a charanga das máquinas nas fábricas com
óleo nas cremalheiras e areia nos parafusos.
estou de pé entre dois comboios com duas lésbicas na
[botoeira
e uma mala oculta cheia de sabões à guisa de poeta.
quer dizer, espero fazendo do sítio uma estação, um
[apeadeiro
(diga-se, uma sanita pública entupida de merda)
por aqui e por ali desmultiplicam trombis de criança
que berram nos colos pela flácida teta de pionés,
pela bofetada, num tasquinhar de velhos entre vírgulas.
no mapa não vem indicado certamente o seu morder
[lúbrico,
de certo modo derradeiro, asfixiado. -
paz à sua alma!
e fazem-se ninhos ao pé de relógios de sol - e
alimentam-se de queijo,
quais ascetas no bairro alto perante as suas ninfas de
[água doce.
(PASSAM MARINHEIROS,
PASSAM MAGALAS,
PASSAM MARINHEIROS,
PASSAM SOLDADOS,
PASSAM AS VÁLVULAS DOS SACOS DE ÁGUA
[QUENTE,
PASSAM OUVIDOS ASSALARIADOS,
PASSAM O POETA DE TANGA
PASSAM AS PUTAS QUE ALIMENTAM ESTA
[CANALHA,
PASSAM COURAÇADOS,
PASSA A GARRAFA DO BAGAÇO,
PASSA A MAÇANETA DO AUTOCLISMO,
PASSA NOÉ DE ARCA NO BOLSO DE FIACRE,
PASSO EU COM CARA DE PARVO
E PASSA A ALICE DO CARROLL,
PASSA DE CERTEZA O ESCUDO INVISIVEL,
PASSAMOS TODOS FARDADOS,
PASSAM MARINHEIROS,
PASSAM CÃES,
PASSAM MOCADAS,
PASSAM MARINHEIROS,
PASSAM SOLDADOS.
HÃO-DE PASSAR SEMPRE SOLDADOS -
no momento seguinte apareceram os soldados correndo
pelo bosque, primeiro em filas de dois e três, depois de
dez e até vinte, e por fim em tal número que pare-
ciam encher toda a floresta. alice escondeu-se atrás de
uma árvore com medo de ser esmagada e ficou a vê-los
passar. pensou que nunca na sua vida vira soldados a
marchar tão mal; estavama constantemente a tropeçar em
tudo e quando um caía, outros se lhe seguiam de tal
maneira que o chão ficou, em breve, coberto de homens. "
Paulo da Costa Domingo

Monday, May 12, 2008

4


este fez-me sorrir.