Friday, February 29, 2008

oh, me

acordo contigo numa rua paralela à minha. dizes: -vamos sair daqui. eu aceno e caminhamos juntos.

a meio do caminho reparo que ainda assim, continuas sem me mostrar os dentes.

Monday, February 25, 2008

orabo.jpg





paint e tédio.

Sunday, February 24, 2008





a amarelo vem o corte de cabelo.



cinzento. branco.

a cal.

o chão.



crostas de tinta nas costas das mãos.

falaste-meemtintasecanasmeias.



um bocado a cair.

e outro.



respira.









eu não sei andar de patins.

só patinar.

já não pinto as unhas.

nem das mãos, nem dos pés.

o minimo era cortar o cabelo.



-está tão curto. eu dava-te dinheiro para ires cortar.





o minimo que eu podia fazer era cortá-lo eu.























as linhas fogem-me.

aqui escreve-se no branco

sem pauta.

e isso começa-me a irritar.

Saturday, February 23, 2008

domingo. não me peças mais que um domingo.


um semi-sorriso à janela.

a mão vai dizendo adeus, naquele movimento que ninguém sabe de cor.
o pano de fundo é cinzento. esta chuva anda a dar-me dores de cabeça e eu não sei se aguento durante muito mais tempo.
vim o caminho todo a assobiar na rua e a esquecer que a calçada estava enlameada. gostava de ter vontade de usar luvas. ou cachecol. ou um gorro.
dispo o casaco e esqueco-me de parar para comprar tabaco.
-o tabaco está caro.
a vida está cara. os hábitos estão caros. a fruta está cara. o sexo está caro. o sorriso está caro. o cházinho vai ter que ficar por se beber. a água está cara. e olha, a das lágrimas também não pode ser de graça.
quando me esqueci de etiquetar o dia, o dia correu melhor.
quando abri o riso, foi humilhante.
uma pessoa esquece-se porque se está a rir, mas vai rindo na mesma. " ninguém pode estar infeliz o tempo todo" . essa foi a maior treta que já ouvi alguém dizer.
olha, achas que quando eu cair no chão vai fazer muito barulho?
achas que vou acordar os gatos que dormem no cesto da velha dos cortinados rendados?
achas que o pica do autocarro vai parar antes de recolher o passe à rapariga dos olhos azuis?
achas que o rapaz vai parar de tocar o clarinete?
achas que a menina vai parar de acabar os trabalhos de casa? as contas de multiplicar? as contas de dividir?
achas que se vai ouvir?
achas que se vai ouvir?
a rapariga dos olhos sorridentes diz que eu só digo disparates. a dos olhos tristes não tem falado comigo. elas são a mesma e só uma é que me acena do outro lado. não me olha nos olhos e tem medo do escuro.

o peso do Universo sacode-me para dentro de um pedaço de cartão. fico no meio dos furos. coseram-lhe um coração com lã vermelha.
acho que foi a minha prima que fez isso.
ela agarrava-se a mim e pedia-me histórias.
e eu contava.
ela agora toca piano e canta em italiano num coro, ballet, natação, equitação.
já não tem tempo para essas coisas quando me vê.

sabes, sinto-me velha. pus-me a sentir velha e amargurada. e é muito estupido passar os dias nesta solidão. tudo isto devia ser mais anormal, ou menos contagioso. "Catarina, tens que fazer um esforço." mas eu nem acredito nisso.
ontem o rapaz gato dos desenhos animados venceu a escuridão e acabou numa nave feita de conchas, na paz total do verão. da areia. do mar. do calor que tosta a pele. dos dias sem doenças.
tenho muitas saudades de nadar.
há qualquer coisa que nos liga ao mar. deve ser da infância desaparecida.

dói-me a cabeça.
e esperam que eu vá estudar.
tenho exame segunda-feira.

depois cortarei batatas e serei uma boa rapariga à mesa de jantar com os amigos dos meus pais.
cravo um cigarro e um filme qualquer. espero não sonhar com a sereia careca que está no carrinho de bébé, tapada com um lençol enquanto o meu pai bebe whiskey e baileys na cama e o meu professor de direito escreve uma lição de moral numa parede de um prédio.
calma, amanhã há mais.

amanhã.
há.
mais.

foda-se.









estou cansada de me lembrar dos meus sonhos.

Thursday, February 21, 2008

0

este lugar é mais meu que teu.

Não há silêncio que nos valha, o mundo é o nosso eco perpetuado até à parede do Universo. está tudo lá fora à tua espera. e fizeram questão de lançar o fogo de artificio enquanto tu não estavas a ver.

a pele está limpa. os olhos estão limpos. a música está limpa. o vôo não tem farpas a cortar o ar quando passamos. a alma está mais limpa do que nunca. isto nunca mais vai ser. nunca mais é escusado.

Vira a boca para o lado e não olhes em frente. essa aí não és tu.

Se as asas te falham é porque o Ícaro não as soube colar bem e se o céu é fundo demais é porque Deus te deixou à mercê do pé colado ao chão.

Ninguém escolheu o que queria cantar.

Ninguém escolheu onde depositar o olhar.

Ninguém escolheu ser.

Mas, prendem-se as mãos às cordas da marioneta e engolem em seco se lhes prendem os movimentos. Não querias mesmo, pois não?

é que agora vais ter que respirar este ar.

- e depois, como vai ser?

queres saber qual a verdade no meio do nada?

boa sorte. eu já me fui mas volto sempre para sorrir com o reflexo. e se até o sorriso é diferente, os olhos são a mesma arca de recordações e medo. é uma questão de alma.

e que no fundo da noite, esteja a luz.

pontapé ao cometa. eu ainda acredito nas estrelas.

Monday, February 18, 2008

suspiro nocturno

(e pensar que o amor é esta queda d'água que desagua em mim.)

Thursday, February 14, 2008

waiting for that macrame bird of prey to come down and sing.



and love is my love is
it's the only thing that
butterfly in Thailand.

Sunday, February 10, 2008





que me engula o compasso,

o tempo,

o que quiser,

mas que não dance na minha campa mascarado de outra coisa qualquer,

depois de me matar à queima-roupa.

já não sei o que quero dizer.

então cala-te e escuta o que não te dói.

Saturday, February 9, 2008

o meu cabelo tem vindo a crescer.

todos os dias me pergunto se é tempo de pegar na tesoura e de o cortar.

é uma filhice de putice pensar-se nisso assim.







estou num sabe-se lá semi-profundo.
espero que isto não acabe num esgotamento nervoso, ou coisa que (v)o(s) valha.
-C. é o quê?
-é Dó.
-C. é Dó.?
(risos)
tenho segredos.mas não os vou vender.

Wednesday, February 6, 2008

i



passeava pelo reflexo dos olhos.
e ficava-se por ali.



os passos do meu passado,
vão-se cruzando, de tempos a tempos,
com as minhas pegadas quotidianas.
abraço o que conheci
para poder entender
o que aí vem.
e fico-me com o amador
que não conhece
a sua dualidade,
mas que me vai amando,
no amanhecer,
para lá do tempo.

achava
eu

mas eu é que
sou
o que não sei
ser.

tenho saudades de (te a)mar
no espaço que fica entre os teus olhos
e os teus pés,
sem que a fala nos atrapalhe.
e só se ouça o burburinho
(do bater do coração -
e olha,
que o relógio não me coma os minutos até ti.)

Monday, February 4, 2008

bom dia, vou dormir.

não foi este o dia que eu vi nascer.

o que sente, é o infinito a esborratar a cor dentro das paredes.a savana ficou atrás da memória, escondeu-se no espaço que se cria, individualmente do espaço que o tempo criou. procura verde. azul céu. a nuvem pode ficar cor-de-rosa, por favor.tem um sorriso incandescente, ás vezes, para quem lhe papa as manhas todas, guarda outro sorriso, mais luminoso, no bolso que não é só seu. aí não há manhas. fora com as cartas dos baralhos.aqui jogam com dados.rebolam pintas pretas em cubos brancos.no tapete de relva, ficam sons de cantigas entre amigos. cancioneiro é o que o medo nunca trouxe. há que desafinar uns com os outros, enquanto o dia nasce. que me entretenha o sono num colchão.
já não sei como acordei.

não foi este o dia que eu vi nacer.
mas ele fica aqui. parado, enquanto avança, a ser o que é.eu vou-me enfiar debaixo de água.e dormir.

boas noites.

amanhã não há domingo.