Wednesday, April 9, 2008

"Estás astravesada como el día Miércoles. "

calculo que o tempo dos ausentes me doa muito mais do que o dos que se ausentam.

uma pessoa crê que não é real quando não tem. vai esquecendo. deixa ir. "isto não está aqui. como é que sei se existe, pôrra?"
não sabe.
encolhe os ombros. faz a sua "vidinha" (como odeio esta expressão), entretém-se com o que há. dá pontapés nas pedrinhas que encontra na calçada, vai contando os cabelos do vento nas mãos das plantas.
tu sabes como é, quando vais no autocarro, pousas o livro, tiras os headphones, largas a janela, e tens aquele momento. enfim; quando te apercebes que toda a gente vai sozinha numa salinha que desliza em frente, com os seus bancos, almofadados de môfo, arrumadinhos. que tu também ali estás e aterras constantemente no escape da paisagem para não pensar no que quer que seja.

mentira, mentira, mentira!

eu vejo a paisagem, mas não lhe reconheço as formas porque me perco constantemente. não dou por ela porque estou cega. comi a minha memória. não sei o caminho que faço.
e, no entanto, todos os pormenores estão a cores.
esqueço-me do quadro geral. das linhas. dos números. das palavras.
recuso-me a limitá-lo ao espaço do tempo que passa. e há música. como é que...?
mas a memória deixa-nos a migalhas.
o pão arrefece mesmo à tua frente.
às vezes dão-to a comer com bolor.
outras dizem-te que é fresco quando parece um calhau.

S. Tomás de Aquino acena-me um olá sorridente no meio das vacas malhadas a azul. uma menina veste um vestido de pele de cordeiro e põe-se balir no cimo de uma árvore.
girassóis com a tua cara. escondo a minha com duas mãos e nasce-me um olho na planta do pé.
ao menos vejo o caminho que piso.

as pessoas do autocarro não dão por mim.
evaporo-me às vezes.
é da água.
e
no sofá, uma gata diz-me "és tola" num semi-miado. e eu concordo com ela e ela aninha-se no meu colo.
e
temos
sonos separados.






ando muito cansada e repetitiva.
e é só 4ª feira.


"we hope that you choke, that you choke."

1 comment:

Rita said...

eu também ando cansada, gostava que pudéssemos falar sobre isso um dia destes, num sítio qualquer.
felizmente, estou livre dos autocarros (não sei se é uma questão de tempo ou não).

tenho saudades tuas. avisa-me quando te puder ir fazer uma visita. *